segunda-feira, 7 de setembro de 2015

As línguas indígenas causando "guerra" na Linguistica.

Americano diz que a língua dos pirahãs, que só contam até três, desafia a teoria mais aceita sobre a linguagem humana. Segundo Daniel Everett, idioma é exceção à chamada Gramática Universal; trio que analisou trabalho, no entanto, critica a hipótese 

O vídeo abaixo é um documentário 



REFERENCIAS PARA LEITURA COMPLEMENTAR A ESSA POSTAGEM: 

http://pib.socioambiental.org/en/noticias?id=45788


quinta-feira, 16 de julho de 2015

TRONCO E FAMÍLIA LINGUÍSTICAS INDÍGENAS

              Dentre as cerca de 150 línguas indígenas que existem hoje no Brasil, umas são mais semelhantes entre si do que outras, revelando origens comuns e processos de diversificação ocorridos ao longo do tempo.
              Os especialistas no conhecimento das línguas (linguistas) expressam as semelhanças e as diferenças entre elas através da ideia de troncos e famílias linguísticas. Quando se fala em tronco, têm-se em mente línguas cuja origem comum está situada há milhares de anos, as semelhanças entre elas sendo muito sutis. Entre línguas de uma mesma família, as semelhanças são maiores, resultado de separações ocorridas há menos tempo.
              No que diz respeito às línguas indígenas no Brasil, por sua vez, há dois grandes troncos - Tupi e Macro-Jê - e 19 famílias lingüísticas que não apresentam graus de semelhanças suficientes para que possam ser agrupadas em troncos. Há, também, famílias de apenas uma língua, às vezes denominadas “línguas isoladas”, por não se revelarem parecidas com nenhuma outra língua conhecida. 
               É importante lembrar que poucas línguas indígenas no Brasil foram estudadas em profundidade. Portanto, o conhecimento sobre elas está permanentemente em revisão.

               Conheça as línguas indígenas brasileiras, agrupadas em famílias e troncos, de acordo com a classificação do professor Ayron Dall’Igna Rodrigues. Trata-se de uma revisão especial para o ISA (setembro/1997) das informações que constam de seu livro: 

Línguas brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas (São Paulo, Edições Loyola, 1986, 134 p.).

TRONCO TUPI: 


]

TRONCO MACRO JE:


OUTRAS FAMÍLIAS:



REFERÊNCIAS DA POSTAGEM: http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A Fundação Nacional dos Índios - FUNAI


Fundação Nacional do Índio (Funai) é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro, criado pela Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculado ao Ministério da Justiça. Sua missão é coordenar e executar as políticas indigenistas do Governo Federal, protegendo e promovendo os direitos dos povos indígenas. São também atribuições da Funai identificar, delimitar, demarcar, regularizar e registrar as terras ocupadas pelos povos indígenas, promovendo políticas voltadas ao desenvolvimento sustentável das populações indígenas, reduzindo possíveis impactos ambientais promovidos por agentes externos.
Funai também tem por atribuição, prover o acesso diferenciado aos direitos sociais e de cidadania dos povos indígenas, como o direito à seguridade social e educação escolar indígena. 
(Fonte: Wikipedia)

Página Oficial: http://www.funai.gov.br

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL)

A fim de combater a triste realidade das línguas indígenas brasileiras, foi criado em 2010 o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), que analisa, além dos riscos de extinção, também o movimento das línguas com o tempo. Entre suas atividades está o financiamento de projetos-piloto para o estudo de idiomas no Brasil, trabalho em que conta com a contribuição de universidades nacionais. Agora, depois de definir aspectos técnicos e aprovar um plano de ação, o INDL trabalha na construção de uma metodologia e abordagem padrão para o reconhecimento das línguas que compõem a diversidade brasileira, para assim promover sua preservação.

A demanda pela inclusão das línguas como uma das dimensões de patrimônio imaterial surgiu em 2006 através de mobilização da sociedade, comunidades civil e militar, além de organizações como o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (Ipol). Nesse ano, foi criado um protocolo de intenções e ações para serem realizadas no âmbito federal para preservação das línguas – assim como reconhecimento delas. Um seminário determinou ações com o intuito de mapear, caracterizar, diagnosticar e dar visibilidade à pluralidade linguística brasileira.

<p>Mapa etno-histórico desenvolvido pelo etnólogo Curt Nimuendajú e publicado em 1981 reúne registros de grupos e línguas indígenas no Brasil</p>

Mapa etno-histórico desenvolvido pelo etnólogo Curt Nimuendajú e publicado em 1981 reúne registros de grupos e línguas indígenas no Brasil. 


REFERÊNCIA DA POSTAGEM: 
http://noticias.terra.com.br/educacao/para-preservar-idiomas-brasil-mapeia-diversidade-linguistica,bbc3c329769fc310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/140

domingo, 17 de maio de 2015

LÍNGUAS EXTINTAS

Um quarto das línguas indígenas brasileiras tem menos de cem falantes. Outro fato grave é que atualmente é quase impossível saber quantas línguas se perderam na história brasileira desde a chegada de Cabral, em 1500. Segundo a antropóloga Ana Vilacy Galucio atualmente o Brasil tem 154 línguas indígenas, mas a maioria é falada por idosos e os jovens não estão mais interessadas em aprendê-las, portanto, há uma tendência no desaparecimento total das línguas. Segundo dados do Censo de 2010 divulgados este mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 37,4% dos 896.917 brasileiros que se declararam como índios falam a língua de sua etnia e somente 17,5% desconhecem o português.O censo também revelou que 42,3% dos índios brasileiros já não vivem em suas reservas e que 36% se estabeleceram em cidades. Dos que não estão nas reservas, apenas 12,7% falam sua língua.A principal ameaça das línguas não é o reduzido número de pessoas que a falam, mas a falta de uso, já que os idosos que a conhecem, sem ter com quem praticá-la, começam a esquecer o vocabulário e a gramática.

Apresentamos um vídeo com essa temática da extinção. 


REFERÊNCIAS DA POSTAGEM: http://noticias.terra.com.br/educacao/um-quarto-das-154-linguas-indigenas-do-pais-corre-risco-de-extincao,4c8f7a7af4d4e310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html



quinta-feira, 23 de abril de 2015

Os povos indígenas e suas línguas

Esse vídeo é parte de uma série apresentada pela SEF/SEED e FUNDESCOLA que mostra diferentes etnias indigenas e suas relações com suas línguas e com o português. No vídeo de hoje aparecem quatro etnias de regiões distintas do país.

O vídeo mostra alguns povos e suas histórias com as suas línguas. Falam sobre a repressão que sofreram ao longo da história do nosso país, ora pelas missões religiosas, ora pelos brasileiros. O interessante é identificar uma igualdade no modelo feito por essas repressões com as línguas diferentes do Brasil, identificando-as como erradas, feias, com conotações negativas. Ainda é possível identificar o que eles fazem para preservação de sua cultura e como isso é importante para esses grupos.

Vale a pena conferir! 






quinta-feira, 26 de março de 2015

O que o Brasil anda produzindo em Línguas Indígenas?

Apesar de rica e extremamente importante para entendermos o que somos historicamente, a cultura e as línguas indígenas não são tão frequentes quando o assunto é pairado nos anais da Linguística. Das pesquisas realizadas em torno desse objeto, as descrições dessas línguas ainda estão em sua grande maioria. Entretanto, questões educacionais e sociais começam a entrar em pauta.

A pesquisa em nossa sociedade tem ligação direta com a compreensão e reflexão do que estamos construindo socialmente falando. Na linguística, tal problemática tange ao que reproduzimos quanto sujeitos discursivos, seja na fala (fonologia), na escrita (morfologia, sintaxe), no próprio discurso e por aí vai, 

A sociedade, como um todo, necessita dessa compreensão. Seja para criar uma reflexão histórica, quanto a promover compreensões de que caminho estamos tomando e de quem somos. 

Ao pesquisar línguas indígenas, começamos a compreender o quão diferente o mundo é lá fora. As línguas indígenas causam aspectos de estranhamento (pelas suas diferenças tipológicas) desde o século XVI. E, nesse sentindo, este grupo que vos falam, acredita que as diferenças entre a cultura "do branco" e a indígena não acabam somente no aspecto linguístico. Isso é o grande nirvana das áreas humanas e sociais. A compreensão do diferente, dos caminhos que existem. 

Apesar do desabafo, a ideia do post é mostrar a produção acadêmica que as línguas indígenas tem no nosso país. Separamos, aqui, dois sites, do que consideramos ser hoje os grandes pólos de estudo de nossa área: a UnB (Universidade de Brasilia), no DF, e a UNICAMP (Universidade de Campinas), no interior de SP. 

*Clicando na universidade, o link te leva diretamente para o site correspondente.



Links usados: 




segunda-feira, 2 de março de 2015

O Tupi mudou o Português ou foi o contrário?

No dia 22 de abril de 1500, Cabral com sua trupe chegou à terras brasileiras. Em Portugal, país originário da missão falava-se o Português. Nos territórios vizinhos eram faladas línguas que pareciam com o esse idioma, tais como o Francês, o Catalão, o Castelhano. E, quando aqui chegaram, os portugueses se depararam com línguas com modelos distintos do modelo se conheciam na época. 

Mais de 500 anos depois, o Português brasileiro é falado por mais de 100 milhões de brasileiros. E a Linguística demonstra a todo instante o quão diferente a nossa língua é da língua-mãe, o Português de Portugal. 

Entre muitas das influências que nosso idioma sofreu, talvez a mais importante tenha sido o contato do idioma deles com as línguas indígenas, principalmente com as do litoral (as quais, acreditamos serem Tupi, ou da família Tupi). 

O fato é que a língua portuguesa ganhou um colorido especial por causa do contato com o tupi e se distanciou muito do português falado em Portugal. O tupi também sofreu influência do português e as palavras se tornaram mais simples, desaparecendo muitos sons guturais e nasais. A língua de contato entre o colonizador e os povos indígenas do litoral é o tupi mais precisamente o dialeto tupinambá.



Assistam ao vídeo, e reflitam sobre o título, respondendo, o que mudou o quê?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Índios isolados

O Brasil encontra-se em um ambiente de diversidade linguística. Apesar da ausência de dados oficiais, estima-se que haja 180 línguas indígenas faladas por mais de 150 mil indivíduos dentro do território nacional. Entretanto, esses dados referem-se a línguas e tribos que já foram descobertos/achados. 

O vídeo abaixo mostra uma reportagem do jornal hoje da Rede Globo com imagens inéditas de tribo que ainda vive isolada na Amazônia. A Reserva dos Kawahiva fica na divisa do Mato Grosso e Amazonas. A área onde os índios estão é duas vezes e meia maior do que São Paulo. 




terça-feira, 20 de janeiro de 2015

As línguas indígenas e sua história.


Apesar do senso comum insistir no Tupi como única língua existente, sabemos que não é bem assim que funciona a dinâmica das línguas indígenas no no nosso território. As tribos indígenas podem ser estabelecidas como civilizações que possuem sua própria língua. 

O texto abaixo de autoria da professora Ceci Maria Aparecida Honório demonstra a dinâmica da questão das línguas indígenas e o território nacional. Nesse assunto é sempre retratado a questão da colonização nacional, o contato entre etnias e a história do nosso país, a documentação das línguas e a Linguística. 


          Desde as primeiras publicações sobre o tupinambá ou tupi antigo, entre as quais destacamos a Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil – obra do Padre Anchieta datada de 1595 –, outros estudos descritivos foram sendo produzidos, sustentando sobretudo os trabalhos de tradução da literatura religiosa nesta e em outras línguas indígenas. Os relatos de missionários e viajantes da época passam a constituir, por outro lado, material de base para a elaboração de dicionários bilingües (português/línguas indígenas) e para a construção de uma historiografia brasileira. Destes estudos decorrem outros subseqüentes, compondo um vasto conjunto de documentação sobre as línguas do Brasil, hoje diluído em alguns arquivos públicos ou incorporado a acervos, na forma de "coleções".
           Vamos nos centrar aqui no modo de organização de dois arquivos que, ao lado de outros não menos importantes, estão representados como centros de referência para pesquisas em línguas indígenas. Trata-se do antigo acervo de Plínio Ayrosa, atualmente incorporado ao acervo do MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP), e da Coleção Línguas Indígenas do Brasil, que hoje integra o Cedae (Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio), no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.
           Queremos mostrar que o arquivo tem uma direção: o gesto de organização de arquivo, ao incorporar um documento, rejeitar outros, exerce um determinado controle da memória social, projeta leitores possíveis nos acontecimentos de linguagem. Assim, tais arquivos tornam ou não visíveis certos saberes acerca, neste caso, das línguas do Brasil. O acesso a este tipo de conhecimento não se dá, pois, pelo mero fato de o arquivo ter uma existência real. E sim pelo processo histórico de sua constituição, modo de constituição de saberes. Deste ponto de vista, o arquivo é, ao mesmo tempo, lugar de constituição e de institucionalização destes saberes. Lugar de regulação do conhecimento, que, portanto, não é neutro.

Plínio Ayrosa: pesquisa e divulgação
            Em 1934, introduzindo a cadeira de Etnografia e Línguas Tupi-Guarani na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, Plínio Ayrosa passou a se dedicar aos estudos do tupi, vindo a fundar o Museu de Etnografia que levou seu nome. Neste arquivo estão organizadas documentações coordenadas, prefaciadas, comentadas ou traduzidas por Ayrosa, referentes aos trabalhos lingüísticos de missionários e viajantes: relatos, vocabulários, dicionários bilingües (português-tupi), literatura religiosa (orações, catecismos, diálogos, poemas etc). De sua autoria são também os estudos dos designativos de origem tupi-guarani empregados na língua portuguesa do Brasil, encontrados nos relatos de missionários, viajantes, na literatura alencariana, na perspectiva geográfica (toponímias) e etimológica.
            Ao organizar um certo saber sobre o tupi, o arquivo cria condições para uma maior visibilidade dessa língua no país, pela veiculação deste conhecimento na imprensa. Grande parte desta produção foi publicada, principalmente no Arquivo Municipal de São Paulo e no jornal O Estado de S.Paulo. Já em 1933 o autor havia publicado suas "Primeiras noções de tupi" no Diário Oficial do Estado de São Paulo.
            Este modo de circulação de saberes, que apresenta a língua tupi como "a língua indígena", produz um certo controle da memória social acerca das outras línguas faladas no Brasil Colonial, ao mesmo tempo em que contribui na construção de um imaginário de língua indígena. É importante lembrar que a língua representada neste arquivo corresponde ao tupi gramatizado, ou seja, aquele que resultou da sistematização das línguas da família tupi. Desse trabalho de gramatização feito pelos jesuítas, resulta também outras obras escritas em Tupi: poesias, teatro, compondo a literatura religiosa. A formação deste corpo lingüístico assim organizado produz um estatuto diferenciado a esta língua relativamente as outras línguas indígenas faladas no país: o tupi antigo passa a funcionar como língua de transição entre culturas. Torna-se, ao lado do latim, língua de catequese, lugar de possibilidade da expansão da doutrina católica e do projeto colonialista.

Coleção de línguas
            Passemos agora ao arquivo organizado pelo professor Aryon Dall'Igna Rodrigues, em um trabalho mais recente. O arquivo, que compõe a intitulada "Coleção Línguas Indígenas do Brasil", foi criado em 1973, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, por iniciativa do professor. Nele constam, quase que exclusivamente, documentos produzidos por missionários do SIL (Summer Institute of Linguistic). Tendo iniciado seus trabalhos no país na década de 50, auge da lingüística sincrônica, o Summer produziu um volumoso material descritivo sobre as línguas indígenas, relativamente a outros estudos de lingüistas brasileiros. A serviço das Novas Tribos do Brasil (igrejas fundamentalistas americanas), no que concerne à tradução do novo testamento em línguas indígenas, para evangelização dos povos que as falam, divulgou seu Arquivo Lingüístico, com sede própria em Porto Velho (RO), com algumas instituições (científicas ou não), sendo acolhido também em centros de documentação, tais como o da Funai e o do Museu Nacional, duas grandes referências sobre o assunto, só para se ter uma idéia.
            Os documentos pertencentes a esse arquivo se dividem em estudos sincrônicos, vocabulários, dicionários bilingües, textos indígenas, vocabulário padrão para estudos comparativos nas línguas indígenas brasileiras. Há também os textos indígenas que incluem temas do cotidiano, lendas, sendo muitos destes textos com tradução bilingüe não só na língua indígena/português como também em língua indígena/inglês. Levando-se em consideração a presença de muitos missionários-lingüistas em área indígena já há mais de 40 anos, chama-nos a atenção o fato de que grande parte do material lingüístico que compõe o arquivo se apresenta em versões incompletas e rascunhadas. É relevante ainda notar que o trabalho de tradução do Novo Testamento, embora bastante representativo em termos quantitativos, não consta da Coleção do Cedae – à exceção da documentação referente à língua catalogada como Mawé (Sateré), em que se encontram os textosQuestions on God e Sateré biblie terms, em inglês e sem data. Segundo dados da Associação das Missões Transculturais Brasileiras (AMTB, 1999), já foram traduzidas ou estão em processo de tradução para as línguas indígenas cerca de cinqüenta bíblias, o que significa que mais de um quarto das populações indígenas brasileiras já têm o Novo Testamento na sua língua.
           O procedimento que exclui este tipo de texto religioso por aporte do SIL, ao mesmo tempo em que controla a cientificidade do arquivo, restringe o acesso aos processos históricos que determinaram sua constituição. Esse procedimento se faz tanto explicitamente, negando-se ao texto a sua inclusão no acervo, quanto implicitamente, pelo modo de categorização deste arquivo – intitulado Línguas Indígenas do Brasil – que não refere o SIL no processo de sua nomeação. Este gesto de leitura acoberta o discurso religioso pela transparência do discurso científico. Além disso, a incorporação de alguns poucos textos/artigos relativos a estudos de pesquisadores brasileiros, dos quais destacamos o do próprio professor Aryon Rodrigues, e de um missionário salesiano, o padre Casimiro Beksta, parece favorecer a legitimação deste arquivo como um outro, que não corresponde ao arquivo do SIL. Rejeitar alguns, incorporar outros. Gesto de leitura que implica responsabilidade.

Institucionalização de saberes
           Como vimos, a visibilidade de um certo tipo de produção lingüística como trabalho científico se constrói pela própria instituição que acolhe este arquivo. Constata-se a utilização de dados do arquivo do SIL fundamentando trabalhos acadêmicos concernidos ao estudo das línguas indígenas. O livro de Aryon Rodrigues, Línguas Brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas, referência bastante significativa nos cursos de Lingüística Indígena e/ou Lingüística Antropológica, como são chamados, apresenta também ampla divulgação do material produzido pelo SIL, tendo em vista a escassez de trabalhos científicos concernidos por lingüistas brasileiros especializados na área até a década de 70.
Outro aspecto relevante a ser considerado no processo de constituição do arquivo é que no próprio momento em que ele se organiza para exercer também um papel na divulgação de seu material, ele projeta alguns leitores possíveis: "As equipes do SIL estão preparando para arquivamento e possível futura publicação, coleções de textos indígenas em formato interlinear com análise morfêmica e tradução livre. Este material será de grande interesse para etnólogos (o conteúdo dos textos) e lingüistas (a gramática dos textos.)". Sem nos esquecer da projeção de um outro leitor: aquele que domina a língua inglesa. Muitos desses estudos estão escritos nesta língua.
           Este gesto de organização produz um efeito de regulação do trabalho de leitura de arquivo: quem deve ler o quê? A memória desses saberes fica assim reservada a certos especialistas.
Um outro lugar de divulgação deste tipo de produção científica, não caracterizado como instituição acadêmica, tem sido as OGNs que desenvolvem projetos com as comunidades indígenas. Através da mídia eletrônica, particularmente a internet, o Instituto Socioambiental (ISA), por exemplo, apresenta em seu site o item "Quadro dos Povos", uma classificação atualizada (setembro/1997) das línguas indígenas baseada na revisão do livro Línguas Brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas, do Prof. Rodrigues, já referido. Quando consultamos ainda o Arquivo da Funai, em seu site, encontramos somente a indicação de pesquisa: "Consultar o livro de Rodrigues acima citado". É interessante notar que justamente o hipertexto, que simula "abrir" muitos arquivos, funciona de modo a dirigir o movimento do leitor sempre para o mesmo arquivo. O movimento entre "o dado" e (aquilo que aparece como) "o novo", ao mesmo tempo em que amplia as possibilidades de acesso aos saberes, pela sua introdução em outros suportes de divulgação, produz os mecanismos de seu controle, re-apresentando o que já se encontra autorizado.

Cientificidade e controle da memória
           Mais do que uma divisão de trabalho de arquivo, organizada por critérios acadêmicos de divisão dos campos do saber, a filologia, de um lado, e os estudos sincrônicos, de outro, a constituição dos arquivos apresentados deixa antever a determinação do discurso religioso sobre o discurso científico. Neste modo de circulação do saber, observamos um movimento que transforma/dissimula o trabalho missionário de evangelização em trabalho científico, garantindo-se um espaço de idoneidade e neutralidade política.
Neste processo, lembramos ainda que o trabalho de classificação das línguas, e, conseqüentemente, classificação dos povos, foi e continua sendo instrumento útil no controle da diversidade lingüístico-cultural no país, tanto por agentes internos quanto externos. Podemos referir aqui o levantamento realizado pela já citada AMTB, denominado A situação das tribos brasileiras, que mapeia o "número de tribos, situação quanto à distribuição da população" e categoriza os povos em três tipos: "Povo A – Grupo etnolingüístico não evangelizado", "Povo B – Grupo etnolingüístico evangelizado, porém não-cristão", e "Povo C – Grupo etnolingüístco cristão", classificação que servirá para a planificação das ações evangelizadoras.
Diante das reflexões apresentadas, perguntamos: que saberes podem ou não ser disponibilizados, ou seja, de que perspectiva se organiza esse arquivo? Podemos dizer que o trabalho de classificação, de categorização, enfim, a prática metodológica, ao organizar formalmente um campo da documentação, produz uma certa assepsia no processo de construção do conhecimento, selecionando e reorganizando um campo de memória, a partir de uma certa conjuntura histórica.
          Do nosso ponto de vista, é preciso que a organização dos "dados" lingüísticos funcione não como um depósito de informações materializadas nos documentos, mas como um espaço de saber organizado pela relação entre diferentes memórias que compõe o social. Relação que, ao movimentar o arquivo, produz sua significação histórica no acontecimento de linguagem.

Línguas e a história no Brasil
          Acompanhar uma parte do processo histórico de construção destes arquivos nos leva a dizer, sobre estes arquivos, os quais constituem um campo de saber, que, ao distribuir a palavra, numa certa medida, ora para um Deus católico, que legitima o tupi como língua que saiu da barbárie, ora para um Deus evangélico, que proclama a salvação de todos os homens pela tradução do "testamento", legitima estes discursos em nome da ciência. Neste espaço de constituição de saberes, a imagem de um arquivo, significado como depositário de um conhecimento científico sobre as línguas indígenas, naturaliza e neutraliza as próprias línguas e seus falantes, pelo apagamento do processo de sua constituição.
         Queremos chamar a atenção para o fato de que esses arquivos têm uma histórica, que tem a ver com a história da constituição das ciências e a história das sociedades. Do nosso ponto de vista, a ciência deve se colocar como um espaço democrático de circulação de conhecimento, espaço que se configura não só de alianças mas também de confrontos.
         Da perspectiva dos estudos lingüísticos, consideramos que o entendimento do "espetáculo" dos 500 anos de Brasil se faz pela memória histórica dos povos que o geraram. E não de sua exclusão.



Sobre a autora: 
"Atua no curso de Graduação e Pós-Graduação do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, É doutora em Lingüística pela UNICAMP e desenvolveu programa de pós-doutoramento na USP pelo projeto História das Idéias Lingüísticas no Brasil: ética e políticas de línguas, através do convênio BRASIL/FRANÇA CAPES/COFECUB/ENS. Desenvolve pesquisas na área de Análise de Discurso (linha francesa), desde 1993, e, a partir de 1996 integra seus trabalhos também à linha História das Idéias Lingüísticas no Brasil, procurando compreender o processo de construção de identidades no Brasil, tendo em vista as práticas discursivas de inclusão/exclusão dos sujeitos e das línguas, em diferentes materialidade (verbais e não-verbais). O foco central de suas pesquisas é a reflexão sobre os processos de subjetivação e construção de identidades, considerando contextos multilíngües e multiculturais. A temática da inclusão/exclusão de sujeitos e sentidos tem sido também articulada à problemática da construção de políticas públicas de inclusão. Analisa documentos históricos, oficiais e material de campo produzidos pelas comunidades indígenas brasileiras desde 1996. Participou, no período de 2000 a 2002, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFSCar, promovendo estudos relacionados à práticas discursivas de discriminação e produção de identidades. Atualmente, integra os seguintes Grupos de Pesquisa CNPq: ““Enciclopédia das Línguas do Brasil” (UNICAMP/LABEURB); “NECOIM – Núcleo de estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória no Centro-Oeste” (Unb)."




segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Brasil e suas muitas línguas.

A língua oficial do Brasil é o português. Entretanto, antes da chegada dos portugueses no século XVI havia, aqui no nosso território, mais de 1000 comunidades distintas que falavam suas próprias línguas. A informação que se tem hoje em dia é que ainda existe mais de 100 línguas faladas dentro do território brasileiro.
No estado do Amazonas, numa região conhecida como Alto Rio Negro ainda é possível encontrar um espaço multi linguístico.

A partir desses aspectos, o vídeo abaixo representa um um pouco de algumas das línguas dos povos indígenas do Alto Rio Negro. Vídeo produzido durante a Oficina de Troca de Conhecimento Multimídia, realizada em São Gabriel da Cachoeira (AM) de 11 a 13 de abril de 2012.

Vale a pena assistir.

https://www.youtube.com/watch?v=HSlwQ6VUC4o